Tive uma conversa na última semana, na qual discutíamos como a sensação de que o mundo vai acabar no dia 31 de dezembro parece atormentar as pessoas. O final do ano traz uma pressão imensa por metas não batidas, projetos não realizados, ações não tomadas…parece que tudo o que não foi resolvido nos 11 meses anteriores do ano precisa ser finalizado agora. E a ansiedade fica como? Por que será que tendemos a repetir isso todos os anos se já observamos que um ciclo se fecha e outro começa? E a vida continua… ela não acaba.
Na edição passada, comentei por aqui como aproveito esse momento para fazer meio que uma pausa de reflexão; que pode parecer até na contramão dessa velocidade absurda. A verdade é que a nossa sociedade não permite o descanso, pelo contrário, valoriza demais o excesso em todos os sentidos. Quem nunca tentou sair dessa roda e se sentiu culpado por não estar na mesma velocidade de sempre?
Mais uma prova dessa exaustão? O Oxford Dictionary divulgou a palavra do ano para 2024. E adivinha qual é? “Brain rot”, que na sua tradução literal seria algo como “cérebro apodrecido”, mas vamos ficar com a tradução mais polida e falar em deterioração do cérebro. Consequência do quê? Excesso mais uma vez!
Continua por aqui para saber qual excesso é esse, o impacto disso para sua vida e como sair dessa zona do mais pelo mais.
O que o “brain rot” quer dizer?
A expressão brain rot significa a deterioração do nosso cérebro pelo consumo excessivo de conteúdo superficial e de baixa qualidade. Segundo a publicação do Oxford English Dictionary, a palavra foi escolhida pela sua frequência de uso que aumentou em 230% se comparado ao ano anterior.
Não tem como negar: vivemos em um mundo onde estamos constantemente conectados. Redes sociais, notificações, artigos, podcasts, vídeos (até essa newsletter) disputam nossa atenção o tempo todo. O problema é que, sem perceber, esse consumo excessivo de informação irrelevante acaba por deteriorar a nossa capacidade de pensar com clareza e tomar decisões conscientes.
E como tomar melhores decisões, fazer as mudanças conscientes e escolhas intencionais se a sua mente está saturada de estímulos inúteis? O que deveria ser um momento de clareza para ação acaba fomentando ainda mais ansiedade, dúvida e procrastinação.
Esse fenômeno do brain rot expõe algo ainda mais profundo: a dificuldade que nós, seres humanos, temos de um olhar e uma análise crítica para filtrar o que realmente é bom para nós em meio a uma oferta tão abundante de conteúdos e informações. A sobrecarga de opções nos leva a um consumo de certa forma passivo, muitas vezes escolhendo o que é mais acessível, fácil e cômodo, e não o que realmente agrega valor a nossa vida.
"Quando não escolhemos conscientemente o que consumimos, acabamos sendo engolidos pelo fluxo de importância, foco e prioridade dos outros, e não nossos."
E isso em tempos de algoritmos que “controlam” o que vemos e consumimos pode ser mais perigoso ainda. Mas isso aqui é conteúdo para uma outra newsletter…
Se não desenvolvemos a habilidade de selecionar o que consumimos de maneira consciente, acabamos sendo levados pelo fluxo do que nos é apresentado, e não pelo que queremos construir. Em transições, essa falta de filtro pode ser ainda mais prejudicial, porque nos afasta de nossos objetivos e confunde nossas prioridades.
Será que estamos cuidando da nossa atenção ou apenas deixando ela ser sequestrada pelo excesso de estímulos?
O que você está consumindo está te movendo?
Já reparou como muitas vezes consumimos conteúdo para fugir de decisões importantes? Quantas vezes você já não se pegou indo dar uma olhadinha no Instagram ou Tio Tok apenas para “escapar” de uma certa situação que está vivendo?
O scroll infinito ou a busca por respostas prontas são apenas formas de evitar o desconforto de olharmos para onde precisamos de fato olhar: para nós. E esse hábito, ao invés de contribuir com o nosso desenvolvimento e nos ajudar a nos movimentarmos, pode acabar causando inclusive o contrário: a nossa paralisação.
Você já se perguntou se tudo o que você está consumindo de informação está realmente ajudando no seu desenvolvimento? Ou está somente ocupando espaço mental que poderia ser melhor utilizado para outras coisas na sua vida?
O impacto da qualidade da atenção na qualidade da ação
Já dizia Lao Tzu:
"Cuide do seu pensamento, porque ele se tornará sua fala. Cuide da sua fala, porque ela se tornará sua ação."
Se lembrarmos que a qualidade da nossa vida está diretamente ligada à qualidade dos nossos pensamentos, fica a reflexão: com qual tipo de conteúdo temos alimentado nosso cérebro?
Quando alimentamos a mente com conteúdos que nos inspiram e são úteis para o que queremos construir, aumentamos nossa clareza, senso crítico e confiança. Mas quando nossa atenção está dispersa, nossas escolhas acabam sendo impulsivas ou até inexistentes.
Quando eu falo no estar em movimento aqui tem menos a ver com o agir desvairadamente, e mais com a ação cheia de intenção, propósito e atenção.
Se você quer conquistar uma nova amizade, coloque qualidade na conexão.
Se você quer investir no seu relacionamento, coloque atenção nessa construção.
Se você quer construir um novo capítulo na sua vida, coloque atenção na sua transição.
Treinar o olhar crítico é essencial e isso pode começar com um simples exercício para perceber onde está a sua atenção hoje.
Será que alinhada com o que você quer criar ou viver no momento?
Como cuidar da nossa mente no meio dessa loucura em que vivemos?
Vou trazer aqui o que hoje pratico e que tem funcionado para mim, mas lembra que pode não surtir o mesmo efeito para você. Então, minha sugestão será sempre: teste, tente e ache a sua melhor opção.
Silêncio mental - Para quem medita, isso é “fichinha”, mas para quem ainda não tem esse hábito estar em silêncio pode ser um grande desafio. Comece se desconectando de todos os estímulos (TV, computador, celular, etc) nem que seja 10 minutos por dia.
Detox digital - Você já deve ter ouvido por aí essa expressão, mas caso ainda não, é literalmente se livrar do mundo digital por um tempo. Escolha um dia por semana, por exemplo, mas se isso ainda é difícil para você que tal começar com um período do ano? Final do ano está aí e talvez seja a sua oportunidade para testar isso.
Curadoria de conteúdo - De tempos em tempos, pare para filtrar e conscientemente escolher o que você está consumindo, seja limpando a caixa de emails que recebe, as notificações habilitadas no celular, a lista de seguidores no Instagram…enfim, priorize aquilo que hoje é essencial para você.
💡Dica de Inspiração
Na linha do detox digital, o escritor e filósofo Cal Newport escreveu um livro sobre o que ele chamou de filosofia do Minimalismo Digital, no qual ele apresenta os três princípios abaixo:
A bagunça custa caro.
A otimização é importante.
A consciência gera satisfação.
Ele sugere fazer uma pausa de 30 dias de tudo digital que não é essencial na sua vida para, em seguida, reintroduzir isso com propósito.
Fica aqui o link para o livro se você tiver curiosidade de se aprofundar no assunto: https://www.amazon.com.br/Minimalismo-Digital-Profunda-Mundo-Superficial/dp/8550807664
🛎Lembrete final: seu consumo de informação influencia diretamente a forma como você enxerga sua carreira, seu trabalho, sua vida e sua transição.
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Adorei o texto! O tema da atenção plena é algo que amo. Este ano acabei deixando de lado, mas estou retomando minhas práticas. Achei muito interessante o termo brain rot. Estamos diante de uma pandemia silenciosa que está levando muitas pessoas a recorrerem a soluções medicamentosas, sem pensar em resolver o problema na sua causa raiz.
Seu texto me fez refletir que preciso incluir, no meu jejum intermitente, também os elementos digitais que consumimos.
Obrigado 🙌🏻