Seu passado não te define mas te revela
A riqueza de olhar no retrovisor e assumir sua história
A gente cresceu ouvindo que "o que passou, passou", que "não se deve viver de passado". E, claro, há uma dose de verdade nisso. Não podemos ficar presos ao que já aconteceu, remoendo mágoas ou alimentando arrependimentos.
Quantas vezes você já deixou de fazer determinadas coisas no presente por decisões que tomou no passado? Não é difícil ouvir das pessoas o quanto escolhas profissionais que elas fizeram no passado hoje parecem como “pesos” em sua vida, segurando-as onde estão. Eu mesma passei por essa fase de questionar a escolha da minha profissão, por exemplo, quando comecei meu processo de transição.
Mas será mesmo que o passado é somente passado? Ele realmente não pode ser alterado, mas nem por isso deveríamos considerá-lo como algo morto e enterrado. Ele pode ser muito mais do que um conjunto de memórias empoeiradas que a gente guarda no fundo da gaveta.
Na busca por um novo caminho, a gente tende a se esquecer do passado e se concentrar demais no futuro. Parece ser contraditório falar isso, eu sei, mas e se olhar para trás tivesse o seu valor? E se eu te dissesse que é no seu "retrovisor" que podem estar as respostas mais valiosas quando buscamos mudança?
Nosso passado é parte fundamental de quem somos, da nossa identidade, das nossas escolhas e, principalmente, do nosso futuro. Desconectar-se dele é mais do que esquecer da nossa história e nossas raízes, ou ignorar lições valiosas e repetir erros e; é um desconectar da nossa essência.
Muito além de somente passado
Falando em desconexão, isso me fez lembrar do filme "Tempo de Despertar" (Awakenings em inglês), cuja trama baseada em fatos reais mostra a história de um médico que tenta “acordar” pacientes catatônicos (que estão há décadas “presos” em seus corpos) com uma nova droga. O ponto é que quando eles despertam, seus passados "recentes" não estão lá.
Já imaginou como seria se você acordasse hoje e não tivesse lembrança alguma do seu passado? Para muitos, isso pode até parecer um sonho à primeira vista, mas o filme mostra o outro lado: o quanto nos sentimos vazios sem as nossas referências e a nossa história, o quanto de significado a nossa própria vida perde.
Ps: o filme é bem antigo mas vale muito a pena se você ainda não assistiu!
Costumamos pensar no passado de forma fragmentada, mais como um amontoado de fotos, vídeos e memórias. Mas são esses pequenos fragmentos que, conectados e interpretados, constroem a nossa identidade. Quer ver como isso funciona na prática?
Toda vez que você precisa se apresentar para alguém, como você o faz? Você narra suas memórias de onde veio, o que viveu, como chegou até aqui, o que aprendeu, etc. Você não está somente compartilhando sua história. Você está reafirmando quem você é.
Essas experiências passadas – tanto boas quanto ruins – são fontes de informação preciosíssimas capazes de revelar:
nossos reais sonhos e desejos;
em que somos realmente bons;
o que valorizamos;
as coisas que não toleramos;
o que nos motiva;
aquilo que de único carregamos como potencial.
E quando compreendemos isso, podemos fazer uso do passado como uma alavanca para o nosso futuro.
Ganhando consciência através da história
Desde a nossa infância, quando começamos a interagir com nossos pais, familiares e com o mundo ao nosso redor, nosso cérebro já está trabalhando intensamente, registrando cada nova experiência, emoção e descoberta.
Essas primeiras memórias, mesmo que a gente não se lembre delas muito conscientemente, já começam a moldar a nossa forma de ver o mundo, nos relacionarmos com as pessoas e tomarmos decisões. Imagino que se eu te perguntar sobre uma memória que marcou sua infância, você será capaz de se recordar de algum evento que talvez te impacte até os dias de hoje. No meu livro, eu conto, por exemplo, como as cenas desde a infância do meu avô contando histórias em uma roda de família inspiraram a minha jornada.
Ao passo que vamos nos desenvolvendo, novas experiências são registradas que acabarão por reforçar isso ou ressignificar e até mudar a forma como enxergamos tudo ao nosso redor e a nós mesmos. Mas, independentemente de quando essas memórias foram registradas, uma coisa é certa: algumas serão intensas a ponto de nos marcar profundamente e nos ensinar lições valiosas que, muitas vezes, podem ditar os rumos da nossa vida.
Mas claro, tem o outro lado da moeda também. Quantas vezes nos pegamos fazendo determinadas coisas simplesmente porque sempre fizemos assim ou porque escolhemos tal caminho anos atrás? Você já parou para pensar em quantas decisões você toma no seu dia a dia repetindo padrões, seguindo rotinas, e hábitos que nem sempre são os mais adequados para a sua situação atual?
Principalmente quando estamos buscando um novo caminho, é fundamental questionarmos esses padrões. É essencial entendermos por quê fazemos o que fazemos, por quê escolhemos o que escolhemos, por quê sentimos atraídos por determinadas atividades e repelidos por outras?
Quanto mais ganhamos consciência sobre nossas histórias, mais conseguimos nos libertar da armadilha de ficar preso a um presente (e futuro) que já não fazem mais sentido para nós. Passamos a usar o passado estrategicamente como alicerce para novos caminhos, como se fosse a base sobre a qual você construiu a pessoa que você é hoje, com seus talentos, suas habilidades, seus valores e suas paixões, seus aprendizados…
Ps: já falei por aqui sobre a autoconsciência ser uma das 5 top habilidades relevadas pelo Relatório do Futuro do Trabalho. Se perdeu esse conteúdo, clique aqui para conferir.
Porque olhar para trás pode te impulsionar para frente
Muitas das nossas escolhas - inclusive do caminho profissional - são influenciadas por fatores que vão muito além da nossa vontade consciente. Elas sofrem influências dos mais diversos tipos:
Expectativas familiares - "Meu pai sempre quis que eu fosse advogado", "Minha família valoriza muito a estabilidade financeira".
Pressões sociais - "Meus amigos estão todos seguindo essa carreira", "Essa profissão está 'na moda'".
Crenças limitantes - "Eu não sou bom o suficiente com números", "Nunca tive talento para artes".
Experiências passadas - "De acordo com o feedback que tivemos do seu trabalho, precisamos trabalhar em um plano de desenvolvimento da sua comunicação para com seus pares”.
E o problema é que, muitas vezes, esses fatores agem de forma inconsciente. A gente nem percebe que está sendo influenciado por eles. A gente simplesmente age, reage, escolhe, renuncia... e, quando percebemos, estamos em um caminho que não nos traz satisfação.
Quando revisitamos nossa história com curiosidade, temos a oportunidade de:
Identificar padrões de comportamentos e atitudes;
Perceber os pensamentos que nos limitam;
Resgatar sonhos e paixões esquecidos;
Reconectar-se com nossos valores essenciais;
Reconhecer o nosso real potencial.
É como assumir o controle da própria vida e fazer escolhas mais conscientes, mais alinhadas com quem nos tornamos no momento atual.
A sua história não é o seu currículo
Ainda vivemos em um mundo obcecado por diplomas, certificados e conquistas (não me entenda mal: essas coisas são importantes também), mas em que determinado ponto nos leva a uma forma míope de enxergar o real potencial de cada indivíduo. Um currículo com certeza é capar de mostrar suas habilidades técnicas e competências, mas a sua história e o seu potencial é muito mais do que isso.
Eu gosto de ver a nossa história como um grande mosaico, composto pelas mais variadas cores – que são nossas experiências, aprendizados, talentos, traumas, paixões, valores, sonhos, desafios, fracassos e que vão muito além da nossa trajetória profissional que o nosso currículo é capaz de captar. É essa composição que nos torna únicos.
Cada passo que você deu, cada escolha que você fez, cada obstáculo que você enfrentou, contribuiu para formar a pessoa que você é hoje. E essa pessoa – você – tem um valor imenso. Você tem um potencial único para contribuir com o mundo, para deixar a sua marca, para fazer do seu trabalho algo que te traga realização.
A nossa história é o nosso maior diferencial. É o que nos torna autênticos. E mais: é dela que nasce o que nos MOVE. É nela que encontramos motivação para fazer o que fazemos e seguir em frente. É, a partir da nossa história, que conseguimos encontrar e ressignificar nosso lugar no mundo.
Como encontrar o valor na sua história
Então, como acessar todo esse valioso recurso que temos a nosso dispor? A receita aqui não tem mágica:
Primeiro, é preciso ir fundo! Investigar e cavar memórias por si próprio, mas também conversar com pessoas que fizeram e fazem parte da sua história para contribuir com a sua visão.
Segundo, é necessário enxergar por novas perspectivas. Mais do que julgar e criticar, olhe para a sua história com curiosidade e, como criança, faça-se perguntas óbvias mas ainda sem respostas e capazes de te levar a profundas reflexões.
E aqui entra uma ferramenta que eu particularmente amo e faço uso dela ainda mais intensamente desde a minha transição: a escrita reflexiva.
Se você ainda não conhece, é como se você estivesse em uma profunda conversa consigo mesmo, mas que ao invés de falar você registra tudo no papel. Esse ato que pode até parecer simples demais é capaz de te ajudar entre outras coisas a:
organizar seus pensamentos e sentimentos;
dar clareza às suas ideias;
identificar seus padrões;
processar suas barreiras e medos;
compreender suas emoções ao tentar definí-las.
Escreva sobre os recentes acontecimentos, seus pensamentos, sentimentos, suas dúvidas, angústias, enfim….aos poucos isso servirá como um holofote sobre a sua vida te auxiliando a enxergar coisas que, antes, estavam escondidas no escuro aí dentro.
Inclusive, no meu livro "Criadora Sou, Protagonista Estou - Uma jornada de inovação humana no palco da vida” você encontra parte das minhas escritas durante o meu processo de transição, compartilhadas de forma transparente para você não só ler mas conseguir se transpor ao que eu vivenciei e registrei ali.
Se você busca ainda mais inspiração para sua mudança, fica aqui a dica de leitura do meu livro.
✍️ Quer começar a praticar?
Não se preocupe com a "perfeição": a escrita reflexiva é para você, não para os outros. Apenas escreva.
Comece com o que vier à mente: escreva sobre o seu dia, um acontecimento, como você se sentiu, o que está te incomodando ou sobre uma pergunta que você quer responder.
Seja honesto consigo mesmo: não tenha medo de expressar suas emoções, seus medos, suas dúvidas e angústias. O papel é o espaço mais seguro para você ser vulnerável.
Faça disso um hábito: tente escrever um pouquinho por dia, todos os dias, mesmo que seja apenas 5 minutinhos ou 1 página. Com o tempo, você vai se soltando e a coisa fluindo.
Se você não souber por onde começar, clique no botão abaixo para baixar o Guia de Perguntas, uma das ferramentas utilizadas no Ritual de Consciência do Programa de Transição que auxilia os participantes a ganharem consciência sobre fatos da sua história para orientar suas mudanças de rota.
Nós somos histórias em constante atualização
Termino a news de hoje com um spoiler do que vem por aí! 😃
Saber a nossa história para podermos construir e reconstruir quando necessário se torna ainda mais essencial em um mundo em constante transformação como os dias de hoje. Por isso mesmo, algo novo está nascendo com muito carinho!
Anunciarei nos próximos dias lá no meu outro canal (Instagram) e na semana que vem trago mais detalhes de bastidores exclusivo aqui para vocês.
Ufa! Chegamos ao fim por hoje.
Espero que tenha gostado.
Se sim, não esquece de deixar o seu like 🧡 aqui abaixo. Ou quem sabe compartilhar sua opinião sobre o conteúdo. Adorarei te ouvir!
Até a próxima semana!
Texto profundo e de várias camadas, vale retomar a leitura.
Gostei da perspectivas que trouxe sobre o lidarmos sobre o passado muito profundo.
Eu até arriscaria dizer que o exercício proposto tem muito da atenção plena. Faz sentido?
Eu escrevi no Medium um texto recentemente falando sobre as marcas do passado, com uma conexão no Ho'oponopono - prática que adoro muito.
Em breve espero trazer esse texto para um canal que estou criando aqui.
Vou compartilhar contigo o link 🔗
https://mrcafeinado.medium.com/marcas-do-passado-caminho-para-o-amor-perd%C3%A3o-e-gratid%C3%A3o-08fdbe49c1e0