Seria hora de trocar os sapatos?
Enquanto eu sobrevoava a América do Norte em direção ao Brasil na última semana, lá nas terrinhas gringas começava mais uma edição do SXSW (South by Southwest), que acontece em Austin, no Texas - um festival de inovação, tecnologia e cultura.
Há os que dizem que ele já foi bem mais alternativo, questionador e acalorado, aquele tipo de lugar que chamaríamos de "festa estranha com gente esquisita”. E, desde seu início em 1987, muita coisa mudou que cada vez mais vem fazendo do evento um palco corporativo.
Uma das palestrantes sempre esperada é a futurista Amy Webb, que a cada edição do evento lança o seu relatório anual de tendências do futuro. E, diante do conteúdo exposto por ela nessa edição, eu queria trazer alguns pontos para maior reflexão com você que me acompanha por aqui e já sabe que meu olhar será sempre voltado primeiramente para o ser humano, mesmo que o futuro sendo pintado por muitos pareça muito mais robotizado, automatizado e cibernético.
Frenéticos dias pela frente
"There are weeks when decades happen” essa foi a frase proferida pelo revolucionário e político russo Vladimir Lenin e escolhida por Amy para sua abertura, a qual passa a ideia de que décadas estão acontecendo em semanas ou dias, para tentar tangibilizar a velocidade na qual estamos presenciando as mudanças.
O que era novidade ontem, hoje já é obsoleto. O que era impensável há alguns anos, hoje é realidade. Tudo o que está acontecendo nesse momento talvez ainda seja uma grande sopa de letrinhas para a maior parte das pessoas: inteligência artificial, robótica, biotecnologia metamateriais, computação quântica, etc.
Mas por mais que não possamos compreender esse cenário cada vez mais complexo, já estamos sentindo o que ele vem causando. Deixa eu aproveitar e fazer uma pergunta aqui para entender o quanto estamos conscientes disso antes mesmo de entrar mais a fundo no tema.
Essa aceleração constante gera uma sensação de urgência, de ansiedade, de que precisamos estar sempre conectados, sempre atualizados, sempre correndo atrás da próxima novidade. Caso contrário, ficaremos para trás.
É nesse contexto que surge o FOMA (Fear of Missing Anything), a sigla que explica o surgente medo de perder qualquer coisa que vem sendo experienciado pelas pessoas. Para quem se lembra do termo FOMO (fear of missing out), essa é uma variação dele.
Mas o que seria esse qualquer coisa? Será mesmo que chegaremos algum dia a ter a capacidade de processar tudo o que está acontecendo a nossa volta? Será que precisamos realmente disso?
Estamos perdendo tudo ou nada?
Será que, na busca incessante por estarmos "por dentro" de tudo, não estamos perdendo o que é essencial para nossas vidas? Eu tenho certeza que sim. Tenho ouvido das pessoas que estão experimentando ficar fora da internet e se desplugar por um final de semana frases do tipo: "Sabe que não me fez falta alguma, pelo contrário, notei e fiz coisas que há anos não conseguia". Isso só me traz ainda mais confirmação disso.
Talvez estejamos sendo “roubados” sem perceber. O capitalismo tem destruído o prazer das pessoas pelo trabalho, extraído o tempo delas via uma tela digital e um sinal 5G, feito das pessoas escravos de notificações e viciados em likes. Quanto falta ainda para chegar em nossa alma?
A Beatriz Guarezi colocou bem isso em sua newsletter: offline é o novo luxo .
E, como bem pontuou o historiador e filósofo Yuval Noah Harari, informação não é sabedoria:
“Somos muito bons em acumular informações e poder, mas muito menos bem-sucedidos em adquirir sabedoria.”
Estamos inundados de informações, mas carentes de real sabedoria e significado. Estamos hiperconectados, mas solitários. Estamos super ocupados, mas pouco produtivos.
A troco de quê estamos nessa corrida desenfreada? Com qual moeda estamos pagando para ter um lugar na arena? Para alguns possa ser a saúde mental e a paz de espírito, para outros a conexão com o que realmente importa ou até mesmo a capacidade de fazer escolhas certas.
Photo by Nathan Dumlao on Unsplash
Seria a hora de trocar os sapatos?
Amy Webb menciona essa importância de começarmos a fazer escolhas certas e tomarmos melhores decisões. Ela comenta que ainda estamos muito focados em eliminar o desconforto contínuo que temos sentido com toda essa situação, como se fosse uma "pedra em nossos sapatos”. E, para nos vermos livres dela, estamos procurando por soluções óbvias, rápidas e fáceis. Estamos simplesmente reagindo ao medo do que vem pela frente sem necessariamente olhar para a nossa possibilidade de dirigir esse futuro.
Mais uma vez caímos na armadilha de resolver os problemas superficiais e evitar ir a fundo onde sabemos que precisamos ir. Tocar o que precisa ser tocado. Expor o que precisa ser exposto, falar sobre o que precisa ser realmente falado. Mudança alguma acontecerá sem isso.
E se fosse o momento de trocarmos os sapatos, então? Não é informação, muito menos tecnologia que nos levará para um futuro melhor. Esse cenário precisa partir da nossa tomada de consciência para fazermos melhores escolhas como seres humanos - todos! Escolhas essas que constróem o futuro no qual queremos viver.
Comece pelo seus calçados
A metáfora pode ser simples, mas ilustra uma questão complexa e fundamental na nossa vida: onde estamos concentrando nossa atenção? o que estamos fazendo com nosso tempo? o quanto estamos conscientes sobre o que queremos para nós – antes mesmo de pensar no futuro da sociedade como um todo?
Será que nos concentramos demais em tirar a pedra do caminho no qual estamos resolvendo os problemas superficialmente, prolongando situações que não nos fazem mais sentido, nos colocando em lugares que não mais cabemos e evitando tomar decisões que sabemos serem as melhores para nós? Quando poderíamos estar em busca dos novos sapatos para desbravar novas possibilidades, trilhar novos caminhos, e encontrar aquele que é o nosso lugar presente e futuro.
Como saber em qual dessas situações estou hoje em dia quando se trata do seu trabalho e sua vida?
Tirar a pedra pode significar:
Mudar de emprego mas continuar fazendo algo que não te preenche;
Fazer um curso querendo tampar um buraco que não é falta de conhecimento;
Achar que está ganhando com o aumento de salário enquanto ele te "rouba” outras coisas importantes na vida;
Reclamar da empresa, do chefe, do colega sem perceber que quem mudou é você;
Procurar por atalhos e fórmulas rápidas de sucesso.
Trocar os sapatos pode significar:
Buscar uma atuação profissional mais alinhada aos seus valores e suas paixões, e na qual você sinta mais realização;
Investir em autoconhecimento para entender suas reais motivações, desejos, medos, travas, trampolins, etc.
Desenvolver novas habilidades para conseguir se adaptar e trilhar na direção do futuro que deseja;
Mudar a mentalidade para se abrir à mudança, ao invés de resistir;
Buscar um propósito maior (encontrando um trabalho que te dê um senso de significado e contribuição).
👀 Se você quiser conferir no detalhe a palestra de Amy Webb no SXSW 2025, segue o conteúdo completo abaixo:
🛎 Lembrete final: uma oportunidade para trocar os sapatos!
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Até a próxima semana!
Ps: aproveitando que estou pelo Brasil por mais um mês, para aqueles que estiverem por perto e quiserem marcar um café basta me enviar uma mensagem =)