Carta aberta aos “não especialistas” em IA
O que realmente precisamos falar sobre nosso futuro
Confesso que a newsletter de hoje nasce de um certo "desabafo". Por um lado, acompanho com fascínio o "hype" da Inteligência Artificial. Pelo menos aqui no Vale do Silício, a IA tem dominado a pauta de qualquer café de esquina. E é natural: tudo que é novo nos convida a testar, experimentar, falar a respeito.
Por outro lado, em meio a tantos termos técnicos, discussões sobre algoritmos e previsões (ora otimistas, ora apocalípticas) sobre o que a IA pode fazer, vejo uma lacuna imensa. Sinto que estamos deixando de lado talvez a conversa mais importante: o que tudo isso significa para NÓS, como seres humanos?
Nós que estamos aqui, navegando essa onda de transformação, com um misto de angústia pelo que está por vir, esperança pelo que pode ser melhor, e preocupações sobre questões éticas, de segurança e, claro, o nosso futuro.
Vejo muitos especialistas em tecnologia falando sobe o impacto da IA. Mas concordo imensamente com o Simon Sinek quando ele diz: “precisamos de mais gente não especialista falando sobre isso". Afinal, se tem uma coisa que essa revolução não é: ela não é apenas uma revolução tecnológica.
O que os dados mostram e não há como negar
Para quem ainda não entendeu a proporção da transformação que estamos falando aqui, vou trazer apenas alguns dados de forma bem rápida para exemplificar (meu foco aqui não é esse):
Mais de 75% das empresas globais estão explorando ativamente soluções de IA em seus processos.
A IA tem o potencial de automatizar até 30% das horas trabalhadas atualmente na economia dos EUA até 2030.
Só as gigantes da tecnologia (Amazon, Microsoft, Google, Meta) devem investir cerca de USD 320 bilhões em IA em 2025.
Empresas esperam atualizar mais de 20% de sua força de trabalho em novas habilidades.
As competências exigidas em postos de trabalho estão mudando 25% mais rápido.
Para você ter uma ideia do ritmo acelerado disso, soluções que antes precisaram de anos para serem adotadas por um público significativo, no caso da IA generativa isso durou meses (dá uma olhadinha no gráfico abaixo que ilustra muito bem isso se você ainda não viu).
Fontes: McKinsey Global Institute 2023; IBM Global AI Adoption Index 2023; Exame 2025; Barômetro de empregos de IA PwC 2024; WPBeginner/IBM 2024.
Esses números não são para gerar mais ansiedade, mas para nos dar a dimensão da mudança real que estamos vivenciando, e o quanto se torna ainda mais crucial entendermos as consequências disso para nós como indivíduo (e não números).
Mesmo que você não atue diretamente com IA. Mesmo que tenha até uma certa aversão à tecnologia. Esse não é um diálogo sobre tecnologia, robôs e algoritmos. É uma conversa sobre o meu, o seu, o nosso futuro como seres humanos.
E, em meio a tantas previsões, precisamos nos perguntar: o que os dados ainda não nos mostram sobre o futuro?
De tudo o que tenho estudado, lido e visto por aí, existem algumas dimensões da nossa experiência humana (e profissional) que escapam às planilhas e aos algoritmos.
Lembro a vocês que isso é apenas um exercício meu – como indivíduo – olhando para essas tecnologias e os assuntos de interesse aqui que tangem n'so seres humanos e a nossa relação com o trabalho. E, como exercício, meu intuito não é trazer aqui respostas, mas sim perguntas para nos convidar a pensar:
📌 O custo oculto da eficiência
Os dados podem celebrar ganhos de produtividade e otimizações trazidas pela automação. Mas nem sempre revelam o custo atrelado a isso para nós: aumento do estresse pela necessidade de adaptação constante, a ansiedade gerada pelo medo da irrelevância, a perda de autonomia em certos contextos.
Até que ponto a busca incessante por produtividade é “saudável” para nós? O quanto estamos apenas seguindo e tentando ilusoriamente reproduzir a velocidade das máquinas? Qual o limite entre usar a tecnologia e ser comandado por ela?
📌 A qualidade das experiências humanas
Conexões mais rápidas, sim a IA tem. Alcance maior, também ela consegue. Interações em escalas inimagináveis, com certeza. Mas qual o valor por trás dessas conexões?
O quanto do nosso tempo estaremos dispostos a investir "conversando” ou trocando com uma tecnologia? O quão verdadeira e duradoura serão essas conexões? Quais experiências passaremos a sentir falta em nossa natureza humana de se relacionar?
📌 A faísca da criação
A Inteligência Artificial é ótima em analisar os dados e o passado, otimizar os processos, prever os padrões e até identificar soluções; mas tudo isso com base em um repertório que já existe. A verdadeira criação, aquela que quebra paradigmas, que nasce da intuição, que brota da sua experiência e do seu olhar, que vem da criatividade "fora da caixa do repertório atual"... essa faísca, muitas vezes, surge de um lugar profundamente humano.
Temos priorizado e reservado tempo em nossa agenda para cultivar esse espaço de criação e de exercício da nossa criatividade? Quais as oportunidades que nascem para aquilo que é autoral e autêntico meu?
📌 O significado do trabalho
As tendências de mercado, profissões e habilidades em alta estão nos relatórios. Os números e natureza das tarefas automatizadas que serão substituídas também. Mas eles jamais revelarão o que traz significado e realização para cada um.
Como temos acessado essa nossa “inteligência” interna? Em um mundo no qual a máquina poderá fazer muitos dos trabalhos que hoje conhecemos, qual será o novo sentido do trabalho para você?
São dimensões como essas que eu acredito que se tornarão cada vez mais nosso diferencial "humano”. São para questionamentos como esses que precisamos começar a buscar nossas próprias respostas para não só redefinir o sentido no que fazemos, mas também a percepção de valor e identidade que criamos em torno do nosso trabalho. Assim, poderemos fazer dessa imensa fase de transformação uma oportunidade de construir um futuro mais humano, mais criativo e mais alinhado com nossa essência.
Essas são apenas algumas das muitas perguntas que pulsam em mim e adoraria ouvir sua opinião e outras questões que sobrevoam sua mente nesse momento. Se sentir de compartilhar, escreve aqui nos comentários. Quem sabe expandimos essa conversa aqui?
Aproveitando…se você conhece alguém que tem trazido reflexões valiosas sobre esses aspectos mais humanos que citei aqui, ficarei agradecida com sua indicação.
E, por último, você teria interesse em participar de uma roda de discussão sobre esse tema comigo e outros profissionais? Um espaço para trocarmos ideias, anseios e construirmos perspectivas juntos?
🎙️ Ouça agora
Falando em "não especialistas" discutindo IA, saiu recentemente mais um episódio do podcast Vem Cá! Vamos te contar uma história, comigo e Sabrina Scarpare. Foi uma conversa leve e super real sobre o uso da Inteligência Artificial no nosso dia a dia. Exploramos como ferramentas já estão presentes em nossas rotinas, muitas vezes de forma sutil, e como podemos usá-las com mais consciência e intencionalidade.
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E por falar em navegar mudanças e construir um novo com consciência: ainda tenho 3 vagas para a Oficina da Transição - Os primeiros passos da sua transição, que acontece essa semana.
Para aqueles que querem começar a construir um novo futuro em seu trabalho (e vida) sem rupturas. Afinal, você não precisa jogar sua bagagem para o alto ou pedir demissão para iniciar sua transição.
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Te vejo na próxima semana!