Texto narrado: Eu sei, mas não devia de Marina Colasanti, publicado pela primeira vez durante os anos 70, no Jornal do Brasil, e mais tarde eternizada em livro.
Já há alguns dias aqui de passagem pelo Brasil e me despertou a atenção a rapidez com que a gente se acostuma com as coisas. Mesmo morando fora já há anos, volto para cá e rapidamente me vejo novamente acostumada aos horários, aos temperos, ao jeito de falar e o “tudo bão?!” do brasileiro, ao tradicional pãozinho e café coado pela manhã.
Por um lado eu sei o quanto o sabor, o cheiro e a sensação de “estar em casa” despertam boas memórias afetivas. Mas, por outro, a gente também se acostuma com o desrespeito no trânsito e a cara de pau da pessoa furando sua fila.
Será que a gente não se acostuma fácil demais com as coisas na vida? Inclusive com aquelas que não nos fazem bem? Isso vale para as coisas cotidianas, a vida como um todo, o trabalho, etc. O quão desafiador o acostumar se torna quando estamos em busca de mudança?
A gente se acomoda em um emprego que não gosta, em uma rotina que não nos inspira, em uma carreira que não nos representa mais... simplesmente porque é mais fácil do que mudar.
Mas como disse a escritora, jornalista e artista-plástica Marina Colasanti, que nos deixou recentemente:
“Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.”
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A razão da nossa acomodação
Ouvimos muito o termo "sair da zona de conforto", mas, antes mesmo de sair dela, é importante entendermos por que a gente entra (e permanece) nela. Por que será que nos acostumamos até às situações que, muitas vezes, não nos fazem bem?
É um conjunto de fatores, mas entendendo alguns deles, funciona como um sinal de alerta para começarmos a perceber quando estamos adentrando essa zona:
Já sei como as coisas funcionam
Sabe aquele emprego que você já não aguenta mais, mas continua nele porque sabe como tudo funciona? Esse é o fator cérebro entrando em jogo. Ele é programado para economizar energia e, por isso, adora uma previsibilidade. Falou em mudar de trabalho, carreira ou vida para ele é significado de muito esforço, portanto tentará te convencer a ficar nesse “lugar quentinho” onde já sabemos como as coisas funcionam.
O que irão pensar de mim
Aqui é o nosso medo falando mais alto. O novo, o diferente, o incerto... tudo isso gera medo. Mas o nosso medo não é exatamente do novo, mas sim do que ele pode causar em nós. Quando abraçamos o diferente, ao mesmo tempo estamos nos expondo à frustração de não atender nossas expectativas, ao julgamento do outro, ao desconforto de não dominarmos e não sermos bons o suficiente.
A gente prefere a certeza do desconforto à incerteza da mudança.
E o medo, é cruel; nos paralisa mesmo. Mas será que vale dar tanto crédito a ele e deixar de investir naquilo que te nos feliz? Será que ele vale a frustração acumulada de viver uma vida que não é bem aquela que você gostaria de viver?
É tarde demais para mudar
O medo cresce ao longo da nossa vida, quando passamos a acreditar em uma série de coisas sobre nós mesmos que não necessariamente são verdades. Mas de tanto ouvirmos e vivenciarmos situações que parecem confirmar essas “verdades”, em algum momento elas se tornam quase que reais para nós. Sabe aquela criança que ouviu desde pequena que ela não era inteligente o suficiente e, por isso, precisava estudar mais e mais? Hoje pode ser um adulto que não acredita na sua capacidade de fazer uma mudança. Ou aquela pessoa que aprendeu que sucesso profissional se atinge antes dos 40 anos? Hoje, no auge dos seus 38, acha que não tem idade para recomeçar.
Tá ruim mas tá bom
Esse talvez seja o mais triste de todos, pois a gente se acomoda com o "menos", o "suficiente", como se não fôssemos dignos de buscar o melhor para nós. Nos acostumamos de tal forma com a rotina e as coisas como estão que acabamos esquecendo que para tudo existem inúmeras possibilidades. Ficar no "ruim" é uma questão de escolha.
E aqui mora o perigo! Apesar do nome, a longo prazo a zona de conforto pode acabar se tornando um lugar extremamente desfavorável, nos impedindo de descobrir novas possibilidades e viver o que queremos.
O poder do desacostumar
Mas se a zona de conforto pode se tornar uma armadilha. O que acontece quando a gente decide sair dela? Quando a gente se permite desacostumar?
A resposta é simples: a gente evolui. A gente se transforma!
A partir do momento que o “desacostumar" entra no nosso dicionário diário, nos pegamos nos desafiando, nos reinventando, chegando onde mal podíamos imaginar. Mas se isso ainda é uma barreira para a sua transição – como um dia já foi para a minha – é mais do que válido você começar a pensar em se abrir ao novo de forma gradativa. Como?
Saia da sua zona de conforto intelectual
Escolha algo que você sempre teve vontade de aprender e comece assistindo um vídeo no Youtube, indo a uma aula experimental, lendo um livro sobre o tema, etc. Eu aproveito quando viajo assim para me expor a coisas novas e, dessa vez incluisve, me aventurei a praticar um novo estilo de yoga.
Rompa a sua bolha
Chame alguém que te inspira para um café, frequente novos lugares e expanda sua rede de conexões. Abra-se para conhecer novas pessoas diferentes daquelas com as quais você convive. Conversar com pessoas que pensam diferente e vivem outras experiências nos ajuda a ter novas perspectivas sobre a nossa própria realidade e, quem sabe, encontrar oportunidades onde víamos problemas.Coloque seu poder de criação para trabalhar
Exercite o seu músculo da criatividade tirando do papel algo que você vive adiando. Se ainda não é aquele projeto pessoal de transição que deseja, não tem problema. Comece um hobby, reúna os que amam livros para uma roda de leitura, crie um blog, junte os amigos para um clube de adoradores de vinho, comece programando a viagem dos integrantes da família, enfim. Qualquer ato de “criar”, por menor que seja, é capaz de te inspirar para criações maiores e mais ousadas no futuro.
Durante o meu processo de transição, eu acabei me reconectando com alguns hobbies e experimentando coisas novas para me abrir para minha transição, como conto no capítulo 7 do meu livro: O espaço para o novo.
Assim como nos acostumamos progressivamente, o desacostumar também é um processo. Comece com pequenos passos, e, aos poucos, você vai perceber que a sua zona de conforto está se expandindo... e quem sabe a sua vida se tornando ainda mais interessante.
Quer começar essa semana?
Além de algumas ideias que acabei trazendo ali acima, tem mais dois exercícios que sempre recomendo como uma forma de exercitarmos o desacostumar:
▶️ O SIM INESPERADO
Se arrisque a dizer sim para um convite ou oportunidade que você normalmente recusaria. Pode ser qualquer coisa: um evento, uma nova atividade, etc.
▶️ O NETWORKING REVERSO
Ao invés de contatar pessoas para te ajudar, pense naquelas para as quais você poderia oferecer ajuda com a sua expertise ou alguma habilidade que você possui. Pode ser o simples ato de organizar o guarda-roupas da amiga ou o aniversário do parente.
Ps: Enquanto escrevia esse conteúdo hoje, recebi de minha tia a mensagem abaixo e resolvi compartilhar esse sinal de sincronicidade.
Aproveite para ler:
Se você está por aqui e acabou percebendo que a zona de conforto na qual está hoje já não te ajuda a evoluir e viver a vida que deseja, talvez seja o momento de começar a pensar em expandir suas possibilidades.
E se só de pensar em uma transição você começa a sentir uma certa insegurança e resistência da sua parte; calma, é normal! Afinal, a transição é, por definição, um processo de desacomodação. Mas é nesse "desconforto" que a maior transformação (eu diria) acontece dentro da gente.
Por isso mesmo, a proposta do Programa de Transição de Vida & Trabalho te convida a navegar por esse processo de forma guiada. Vou te dar as mãos para construirmos juntos essa sua jornada com mais segurança, clareza e confiança.
No programa, você terá a oportunidade de:
mergulhar fundo na sua história e identificar o que te move;
descobrir (ou redescobrir) talentos, paixões e valores para entender seu diferencial;
desenhar um novo capítulo que te faça vibrar;
criar um plano de experimentação da sua transição para gradativamente mudar.ar cada pequena vitória ao longo do caminho.
Se você sente que esse é o momento desse passo em sua história, me mande uma mensagem clicando no botão abaixo. As inscrições para o programa estão abertas, e eu adoraria te ajudar a construir esse novo em sua vida.
Até a próxima semana!
Nossa que text! Me deixou brutalmente emocionado.(rs)
Estes dias estudando sobre um conteúdo novo que me chegou (Lei da Suposição), justamente me perguntei: Por que nossa mente se acostuma em cultivar o que é negativo, cria-se uma resistência e resistimos bravamente.
Com uma leveza poética e reflexiva seu texto me trouxe luz.
Obrigado pelo compartilhar 🙌🏻