Escrevo essa newsletter enquanto embarco para os EUA e, apesar dos diversos contratempos que apareceram nessa minha viagem ao Brasil, a newsletter de hoje vem inspirada no evento que tive a oportunidade de participar na semana passada. Um auditório de pessoas com um único objetivo: redesenhar o futuro da preparação de jovens para o mercado de trabalho.
Mentes inconformadas com o status quo reunidas para alimentar o desejo de romper com o modelo tradicional de processos disponíveis no mercado, e desenvolver e preparar esses jovens de forma mais humana e consciente para suas jornadas profissionais.
Fiquei super feliz pela oportunidade de mais uma vez apoiar uma iniciativa voltada para o público jovem (já tive várias ao longo da minha trajetória), mas principalmente pelo impacto que ela traz que tem tudo a ver com o propósito do meu trabalho hoje: auxiliar indivíduos a tomarem decisões mais alinhadas com quem são desde o início de suas jornadas, evitando desvios de rota, frustrações e a sensação de estarem perdidos lá na frente.
E, é claro, que isso me fez refletir muito: quantos de nós, que hoje buscamos uma transição, tivemos essa orientação lá atrás? Quantas das nossas primeiras grandes escolhas – de curso, de faculdade, de primeiro emprego – foram feitas com base em um conhecimento profundo sobre nós mesmos, nossos desejos, paixões e valores?
O encontro era destinado aos jovens, mas seu intuito por si só teve o potencial de plantar uma sementinha em todos os presentes: será que andamos seguindo o status quo em nossas vidas? Quais são as coisas que estamos aceitando pelo simples fato de acreditar que elas não podem ser mudadas.
Evento Programa Go Winners
O que você tem feito hoje simplesmente porque sempre foi assim?
Uma pergunta daquelas que vem para nos tirar do lugar comum, seja ele onde for: no trabalho, no relacionamento, na vida, etc.
Será que é a carreira que você escolheu lá atrás, talvez com base em influências externas ou com a pouca informação que tinha na época, e que você segue até hoje por uma espécie de inércia confortável?
Será que é a dinâmica que você vive hoje e sua rotina que até funciona, mas que já não te energiza ou te traz real satisfação?
Será que é aquela imagem de "sucesso" que você aprendeu na sua família ou no seu meio social e nunca parou para questionar se ela realmente faz sentido para você hoje?
Esse padrão do "sempre foi assim" se infiltra na nossa vida de tal forma que sem perceber a gente simplesmente faz as coisas, sem nem pensar mais por quê se faz. E por nos trazer uma sensação (muitas vezes ilusória) de segurança e previsibilidade, vai se implantando e permanecendo em nossas vidas sem nem percebermos, pois consome pouco de nosso cérebro pelo fato de já ser conhecido por ele.
O problema é que, ao nos agarrarmos ao "sempre foi assim", deixamos de questionar, explorar e buscar fazer diferente. Corremos um risco enorme: vamos aos poucos perdendo a capacidade de nos reinventar.
"Eu nasci assim, eu cresci assim, e sou mesmo assim, vou ser sempre assim..." Gal Costa
Acendendo a luz do seu quarto escuro
Começar a dar atenção e perceber essas coisas que fazemos no automático é como acender uma luz naquele quarto escuro dos nossos hábitos, medos e coisas que passamos ao longo da vida a acreditar.
Ganhamos consciência sobre:
nossos padrões invisíveis: aquelas ações, pensamentos e reações que você talvez repete sem nem perceber;
nossas motivações reais (ou a falta delas): você faz o que faz por desejo genuíno, hábito, medo ou somente obrigação?
nossas crenças: aquelas "verdades" que assumimos e internalizamos ("não sou capaz", "é tarde demais", "isso não é para mim") e que nos impedem de avançar.
Mas é somente a consciência que nos faz mudar? Não. A consciência ilumina tudo isso e, a partir daí, você pode usar o seu poder da escolha. Ela te permite pausar, refletir e fazer uma nova escolha mais alinhada com quem você é e com o que você busca.
Você percebe que o "sempre foi assim" não precisa ditar o seu futuro.
Uma vez que tomamos consciência de algo que fazemos ou pensamos mas que não nos serve mais saímos de um estado de "ignorância confortável". Permanecer na mesma situação, sabendo o que você sabe agora, deixa de ser uma simples inércia e passa a ser uma escolha.
E a pergunta passa a ser: qual nova escolha você quer fazer em sua vida?
✍️ Que tal começar a colocar isso em prática?
Já que abri nosso papo hoje com as escolhas iniciais de nossa carreira, proponho uma pequena viagem no tempo, uma volta às suas primeiras grandes decisões profissionais para refletir sobre:
Qual foi a sua primeira grande decisão relacionada à sua carreira ou aos seus estudos?
O que realmente te motivou a fazer essa escolha naquela época? Foi uma paixão genuína pela área? Foi a influência dos seus pais ou amigos? Foi a busca por segurança financeira ou status? Foi o medo de escolher "errado"? Foi a única opção que apareceu?
O quanto você realmente se conhecia naquele momento? Tinha clareza sobre seus talentos naturais, seus valores mais profundos, suas verdadeiras paixões e o que te trazia realização?
Essa escolha do passado ainda reflete quem você é hoje? Os motivos que te levaram a ela ainda são válidos para a pessoa que você se tornou, com as experiências e aprendizados que acumulou?
Não se cobre por respostas imediatas, apenas permita se fazer essas perguntas. Esse exercício não tem o objetivo de gerar arrependimento pelo passado, mas sim de trazer luz e consciência para o presente – que é quando e onde as coisas podem ser mudadas se desejadas.
Fazer essa "arqueologia" das nossas primeiras escolhas é uma parte inicial do Mapa de Transição que construímos durante o Programa de Transição de Vida & Trabalho para trazer aos participantes mais consciência sobre suas histórias.
Perceber que muitas decisões foram tomadas com base em menos autoconhecimento ou em influências externas nos tira um peso enorme das costas. Paramos de nos culpar por estarmos onde estamos e começamos a entender a trajetória que nos trouxe até aqui, a razão real de cada passo que tomamos.
Mas o maior valor de revisitar o passado não reside em entendê-lo, mas sim usá-lo para construir um futuro diferente. Sua história, com todos os seus acertos, erros, desvios e aprendizados é a matéria-prima mais rica que você possui para a sua transição. É como conectar os pontos em uma grande linha do tempo.
Mais uma vez: aqui o passado não dita o seu futuro, mas ele te oferece informações valiosas para que você possa escolher o seu próximo capítulo de forma mais intencional e alinhada.
"Nossa história não nos aprisiona, ela nos ensina – se estivermos dispostos a mergulhar e compreendê-la profundamente."
Se você sente que está na hora de quebrar o ciclo do "sempre foi assim" e fazer escolhas mais conscientes na sua carreira e vida, fica aqui o convite para batermos um papo sobre.
Qual "sempre foi assim" você está pronto para questionar na sua vida hoje?