O que tem de macro por trás da "micro-aposentadoria"
Um movimento, uma tendência, um luxo ou uma distorção do pendurar as chuteiras?
Olá! Chegamos a mais uma edição da newsletter e queria trazer hoje para a pauta um assunto que está gerando debates acalorados na mídia e redes vizinhas: a micro-retirement ou micro-aposentadoria (da Geração Z) - e já explico mais adiante porque coloco isso em parênteses. Você ouviu falar?
O que me chamou atenção, além do termo em si, foi o questionamento e incômodo que isso vem causando. Para alguns, o movimento soa como uma fuga da responsabilidade. Para outros, uma nova forma de encarar e equilibrar a vida e o trabalho.
Uma coisa é certa: toda vez que algo novo surge quebrando padrões, ele provoca reações. Quem está satisfeito com o caminho “tradicional” pode sentir uma certa estranheza. Já quem é mais aberto ao novo se pergunta: por que eu não posso fazer o mesmo?
Então, ao invés de achar certo ou errado nessa história, me acompanha aqui para abrir a mente e olhar para o tema por uma nova perspectiva e, claro, entender o que isso tem a ver com você.
Vamos primeiro entender o que é o movimento
E se ao invés de trabalhar de forma ininterrupta até os sessenta e cinco e mais um pouco, você pudesse intercalar períodos de trabalho com pausas estratégicas para se dedicar a hobbies, viagens, descanso ou outros projetos?
Essa é a proposta que a Geração Z (nascidos entre 1997 e 2012) vem trazendo, e que inverte um pouco a lógica tradicional de trabalho e aposentadoria que muitos de nós conhecemos há tempos. E que à primeira vista pode parecer um choque para quem por aqui cresceu ouvindo que o “certo” é trabalhar duro e se aposentar no fim da linha.
Mas essa geração, que vem experimentando um mercado cheio de incertezas, instabilidades e com a saúde mental em pauta, está questionando se precisa mesmo ser esse o modelo a ser seguido e buscando alternativas que proporcionem mais equilíbrio e significado. Afinal, essas novas gerações viram seus pais, familiares e até mesmo chefes e colegas de trabalho mais velhos se dedicarem exaustivamente ao trabalho e muitas vezes não receberem os retornos desejados, como explica a matéria divulgada na Forbes.
Eles têm um ponto: é um movimento que rompe com a linearidade da carreira e vida das pessoas e…
“…tudo que quebra os padrões já conhecidos mexe com as estruturas.”
Quem não está feliz e sonha em ter mais liberdade, talvez olhe para isso e pense “folga". Mas, no fundo, será que não é o que essa pessoa, no seu íntimo, gostaria de fazer?
Não escrevo aqui para criticar ou defender - afinal o que é certo ou errado quando se trata da vida de cada um? Eu quero trazer alguns pontos para te abrir novas perspectivas sobre o assunto e, quem sabe, despertar algumas reflexões.
Um novo nome para velhas práticas?
Pausas estratégicas não são uma novidade absoluta, muito menos dependendo do país e da cultura nos quais você nasceu e cresceu. Será que isso não seria então somente um novo termo para algo que de uma forma ou outra já existe?
Nas minhas andanças pelo mundo e também trabalhando com profissionais de vários lugares, encontrei muitos casos nos quais jovens tinham em sua trajetória o tal do “gap year". De acordo com um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgado em 2022, em países da Europa, além da Austrália e Nova Zelândia, essa prática é comum, pois as próprias políticas de licença mais flexíveis incentivam a pausa.
Talvez para o brasileiro o termo sabático tenha ficado enraizado como algo para poucos e que significa “luxo” em até certo ponto. Eu me lembro que no início da minha transição ouvi de várias pessoas a frase: “ah, você também está em sabático”. E conto um pouco disso no capítulo 6 do meu livro para explicar como isso mostra a dificuldade que nós temos de lidar com a dúvida, busca e exploração.
Precisamos de um rótulo que defina o que somos e o que fazemos ou corremos o risco de sermos vistos como aquele ali que não sabe o que quer da vida. E, por mais difícil que fosse explicar para as pessoas, descanso era a única coisa que naquele momento eu não estava tendo. Mas essa pausa sai completamente do modo "produtividade”, e cuja fórmula acreditamos ser só uma: o trabalho e a carreira convencional.
Sim, eu escolhi uma folga – para a minha mente e o meu corpo. Eu pausei tudo aquilo que me via fazendo repetidamente dia após dia. Eu precisava de diferentes estímulos, mas isso não significa que parei. Eu atuei em projetos sociais, dei aula, fiz trabalhos alternativos, ajudei os negócios dos amigos, voltei a estudar, etc.
E olha que eu não sou Geração Z e nem era tão jovem assim quando fiz essa pausa. E, assim como eu, recebo diariamente pessoas na casa dos 30, 40, 50 anos procurando pelo que eu gosto de chamar de RESPIRO em suas carreiras e vidas.
O estigma da Aposentadoria
Assim como criou-se um estigma em torno da palavra "sabático", o mesmo problema (em outras proporções claro) eu vejo aqui com a palavra aposentadoria. Uma palavra que ainda representa inatividade, o famoso “pendurar as chuteiras”. E convenhamos, isso não combina com a realidade de muita gente hoje.
Vemos cada vez mais pessoas se “aposentando” de forma ativa, buscando novos caminhos ou querendo contribuir, seja por necessidade financeira ou desejo de se manterem engajados. A ideia tradicional de aposentadoria está sendo remodelada, e trazer esse antigo conceito para esse movimento da Geração Z talvez só tenha deturpado a sua compreensão.
O cenário propício para novas formas de trabalho
Além do movimento que vem de cada indivíduo, existe também um cenário se configurando no mercado de trabalho que vem impulsionando ainda mais carreiras alternativas. A Gig Economy vem criando espaço e oportunidades para essas "pausas” serem financiadas por outras formas de trabalho como freelancers, projetos independentes, economia criativa, etc.
Confere esses jovens entrevistados sobre o movimento nesse canal de notícias americano para entender diferentes motivos entre a mesma geração:
O que podemos extrair disso?
Para mim, esse movimento fala muito mais de reinvenção e transição do que simplesmente parar de fazer as coisas. É mais uma tendência que reflete uma busca por encontrar novos caminhos de realização, novas dinâmicas de trabalhar e viver, e um desejo constante por um "fazer” e "viver” com mais significado.
E os questionamentos que ficam:
🤔 Trabalhar para viver ou viver para trabalhar? Fez sentido para gerações passadas, mas será que precisamos esperar chegar aos 65 anos para aproveitar a vida? Será que não é possível viver o que desejo enquanto construo o que preciso?
🤔 Existe uma alternativa ao combo linear? Será que só há uma forma de carreira: estudar + entrar no mercado + se estabilizar? E se pudéssemos explorar, aprender e desenvolver habilidades de outras formas?
E você, o que pensa sobre o assunto? Adorarei ouvir suas reflexões, opiniões e experiências nos comentários. Entre para essa roda de conversa!
Esse pode ser o seu momento de pausa
Será que você também vem buscando por esse respiro? Uma pausa para poder compreender por qual caminho seguir? Esse é o objetivo do Programa de Transição de Vida & Trabalho, cujo próprio nome já diz vai muito além de carreira.
Ao descobrirmos o que te move e te faz vibrar, temos clareza e direção para nos reinventarmos e construirmos um caminho profissional com muito mais significado e alinhado a um estilo de vida que te satisfaz.
As inscrições para o Programa estão abertas e tem oferta especial 🎁 para esse começo de 2025!
Se tiver interesse, basta me mandar uma mensagem no botão abaixo para falarmos a respeito.
Adorarei te receber nessa jornada de transformação!
💡 PÍLULA DE INSPIRAÇÃO
Olha que interessante a forma como o designer Stefan Sagmeister constrói a sua dinâmica de trabalho e vida nesse TED Talk “O poder d tempo de folga”, escapando um pouco do combo tradicional que falamos ali acima. E detalhe - o vídeo é mas antigo do que você pode imaginar.
Até a próxima semana!