O norte que move o seu trabalho e sua vida
Da série: A sua Inteligência Humana no futuro do trabalho
Se você perdeu a newsletter anterior, dá uma espiadinha aqui antes de começar essa leitura.
Semana passada, abri uma série especial para esse mês abordando o quanto a corrida externa por habilidades do futuro está colocando foco na questão tecnológica, e deixando passar a maior fonte que temos para desenvolver novas habilidades no que será nosso diferencial cada vez maior daqui pra frente: a nossa sabedoria interior.
Podemos escolher entre ser um barco à deriva sendo apenas levado pela correnteza do mercado, ou desenvolver nossas habilidades essencialmente humanas para conduzir nosso barco e escolher as águas pelas quais queremos navegar em nossa vida.
Mas, já que marinheiro nenhum navega sem bússola, como encontrar nossa direção? Essa é a primeira habilidade essencial para se adaptar e reinventar a si mesmo (eu chamo de CORE skills) que exploraremos por aqui hoje.
Photo by Greg Raines on Unsplash
Existe um sentido?
O que não falta hoje em dia são informações sobre o que deveríamos ser e querer nessa vida. Um salário mais alto, um cargo de maior prestígio, o reconhecimento dos outros. Essa é a motivação que vem de fora e meio que nos empurra para continuar seguindo na mesma direção pela qual a maior parte das pessoas tem ido. E eu sei como tudo isso pode ser sedutor.
Mas e quando esse "certo” já não nos preenche? Quando por mais que caminhamos parecemos nunca chegar onde queríamos estar? Dar ouvidos a esse barulho externo pode até nos levar a escolhas que parecem "certas" aos olhos do mundo, mas será que é isso o que nos realiza de verdade?
Estava lendo um texto da
que tem muito a ver com isso. E essa frase dela resume bem essa armadilha que caímos muitas vezes seguindo o que o mercado nos coloca:Porque construir uma carreira quer dizer encaixar a vida num trabalho, e não um trabalho em uma vida.
Então você decide sair em busca de encontrar um trabalho com mais significado e compartilha com alguém próximo a você que está em busca de gostar do que faz, afinal muitas vezes estamos apenas em busca da aprovação de que estamos no caminho certo. Essa pessoa escutará, te olhará meio desconfiada e talvez te chamará de louco. Isso significa que ela está reprovando a sua atitude? Não. No fundo, ela admira sua escolha, mas ao mesmo tempo se sente ameaçada pois você está questionando a “escolha” que ela tem feito para a própria vida dela.
É por isso que quando falamos de buscar algo com mais sentido, um trabalho com mais significado, não adianta buscarmos nossas respostas lá fora, pois continuaremos ouvindo o mesmo “barulho”, que infelizmente mais nos afasta do que nos aproxima das reais respostas que podem nos trazer realização.
A direção precisa vir do que nos motiva de verdade. Ela precisa nascer dos nossos interesses genuínos, do prazer que sentimos ao realizar certas atividades, da nossa sensação de completude de estarmos naquele que é o nosso lugar, onde conseguimos explorar o que de melhor temos dentro de nós e, por isso mesmo, passamos a ter um trabalho que contribui para algo que realmente importa na nossa vida.
A sua história de vida revela
A essa altura, talvez você já tenha ouvido que para chegarmos nessa bússola interna precisamos saber dos nossos sonhos, das nossas paixões, nossos talentos, valores, nossas aptidões, etc. Tudo isso é muito válido como coordenada, mas existe uma peça aí que muitas vezes falta nesse quebra-cabeças que é a essência do porque você faz o que você faz.
Mas como descobrir isso que parece tão escondido, inacessível e que chega até a ser místico demais? A resposta, muitas vezes, está mais perto do que podemos imaginar. A nossa própria história de vida pode ser a fonte mais profunda e capaz de nos revelar esse norte.
O filósofo Rudolf Steiner, que tanto valorizou o estudo da nossa biografia, nos lembra da nossa capacidade de escrever nossa própria história:
"A nossa mais elevada tarefa deve ser a de formar seres humanos livres que sejam capazes de, por si mesmos, encontrar propósito e direção para suas vidas."
Cada evento, escolha e desafio, cada decisão e “não” dito trazem pistas sobre o que genuinamente nos MOVE. Ao identificar esses pontos em nossa história, somos capazes de perceber o quanto fomos nos distanciando (ou nos aproximando disso) ao longo dos ciclos da nossa vida.
Esses acontecimentos, analisados de uma forma estruturada, podem nos revelar o fio condutor da nossa história. E, quando ele emerge, nos ajuda a compreender o nosso movimento por essência.
Toda vez que estamos nesse movimento próprio temos muito mais chances de nos sentirmos realizados e satisfeitos com o que fazemos, as escolhas que temos feito, as pessoas que estão ao nosso redor, os círculos que frequentamos, etc.
Como você pode ver, não é somente sobre carreira, mas a história nos ajuda a entender como nosso trabalho pode nos colocar nesse movimento também. Essa é a bússola que pode guiar o nosso caminho de forma mais "certeira” ao destino de nos sentirmos realizados com o que fazemos (e, o que é melhor, está disponível a todos).
Se você quer entender um pouco mais da importância da sua biografia, sugiro você conferir o Podcast
que acabou de ir ao ar. Em um papo leve com Babi Santos, eu dou mais detalhes sobre isso e, inclusive, conto o que me move a estar aqui hoje fazendo o que faço.✍️ Que tal começar a explorar essa direção?
Trago aqui abaixo um exercício inicial para você que tem interesse em ganhar mais clareza sobre qual é o movimento da sua vida.
Liste experiências que te marcaram: lembre-se momentos na sua vida nos quais você se sentiu engajado e feliz. O que você estava fazendo? Com quem estava? O que tornou esse momento tão especial para você?
Identifique suas barreiras: pense em situações ou atividades que você se sente desmotivado. O que te frustra naquilo? Existe algo em comum entre elas? Quais necessidades suas estão sendo deixadas de lado ou contrariadas?
Explore suas curiosidades: Quais temas, assuntos ou habilidades despertam sua curiosidade de forma espontânea? São várias, sempre foram as mesmas coisas ou elas vêm mudando ao longo da sua vida?
As experiências, barreiras e curiosidades são apenas alguns dos pontos que somos capazes de mapear ao usarmos a nossa história de vida como ferramenta nesse processo.
Esse exercício é apenas um ponto de partida para essa exploração e se você sentir de se aprofundar mais, aqui estão duas oportunidades:
Workshop online para assinantes pagos da newsletter no qual trabalharemos essas habilidades para o futuro do trabalho de forma prática.
Programa de Transição de Vida & Trabalho no qual eu te conduzirei por esse mergulho na sua história de vida para te auxiliar a encontrar o que te move e construir o seu plano de transição.
👁 Por aí:
Me deparei com esse texto da Cassie Kozyrkov, que foi Chief Decision Scientist do Google, e ele resume muito do que falamos aqui pontuando a Inteligência Artificial em todo esse contexto. A IA é muito boa em ver passado, padrões, dados, fatos, mas enxergar a pessoa real que existe por trás disso tudo e fazer disso uma ferramenta benéfica... isso continua sendo profundamente humano.
Fico por aqui hoje!
Até a próxima semana.
Abro uma nova linha de comentário: ao longo da vida, fomos ensinados a não desenvolver nossa sabedoria interior, mas sim a conectar nossa existência ao trabalho. Quando, na verdade, deveria ser o contrário.
O tempo todo somos orientados a construir uma vida onde o trabalho ou a profissão se tornam a grande conquista. É como se esse fosse o objetivo final.
O ser humano tem essa mania de transformar “coisas” em quase deuses. E assim fazemos com o emprego, com a carreira, com o status profissional. Colocamos tudo isso num pedestal, como se fossem provas de valor e identidade.
E, no meio disso, deixamos de olhar pra dentro. Esquecemos de cuidar da mente, das emoções, do que nos move de verdade. Ignoramos o silêncio interior, como se ele não tivesse valor.
No fim, seguimos correndo atrás de metas externas… e nos afastamos do que realmente importa: nós mesmos.
Texto profundo e provocante.
Fui ouvir o podcast que vc participou e dele eu dei um pulo para a tecnologia para buscar resgatar mais sobre esse tema do ciclo de vidas defendido por Stenier. E eis que volto ao texto para amarrar as pontas.