O limiar entre se empregar, trabalhar e empreender
Em minhas experiências com os diversos ecossistemas de empreendedorismo no mundo (Brasil, Estados Unidos, Israel, Berlim, Austrália e agora Suiça), ao mesmo tempo em que fica cada vez mais evidente o quanto a natureza dos negócios e o como fazer negócios é uma expressão da cultura enraizada naquelas pessoas, também se torna cada vez mais forte para mim a existência de dois tipos de empreendedores em quaisquer desses lugares: aqueles que iniciam seus negócios a partir de um objetivo único de se empregar e aqueles cujo negócio é resultado de uma busca por um trabalho que o realiza.
Foco na atividade em si ou no resultado já fica claro desde o começo. Enquanto alguns focam na atividade e o fazem pelo prazer em realizá-la, outros cujo foco está no resultado muitas vezes não querem nem se envolver com determinadas atividades inerentes ao seu negócio. Somente o fazem por pura necessidade, às vezes chegando até a detestar certas coisas.
E não se equivoque achando que estamos aqui a falar somente de empreendedores que rodam seus próprios negócios. Empreender é um verbo, uma atividade, uma atitude dirigida por uma vontade inerente de querer dar vida a algo. E como tal, essa ação pode ser executada em diversas esferas da sua vida. Você pode empreender em um negócio, em um projeto, em um trabalho, em sua vida, em você mesmo se quiser!
Sendo assim, cada empreendimento é um resultado do ser humano. É uma extensão externa do que se encontra dentro de cada um. A visão de mundo de cada um, o que cada ser acredita, aquilo que a pessoa quer trazer ao mundo, o legado que se quer construir e deixar. E assim como fases e ciclos desse ser humano, o empreendimento também acompanha essa evolução de um conceito para uma ideia, de uma ideia para um projeto, de um projeto para uma iniciativa real, e iniciativa essa que vive e deve viver em constante transformação.
Mas e quando não se conhece essa essência e não se encontra essa chama interior? Existe o alto risco da pessoa estar apenas atrás de um emprego que lhe pague as contas no final do mês.
Como saber em qual caminho estou? Olhe para os empreendedores que você conhece e se pergunte: quais deles você considera empreendedores de sucesso? Por quê? Já pela resposta é possível perceber se andamos medindo nossas vidas e nosso sucesso apenas pela ótica financeira.
Mas se o esforço para construir um negócio ou encontrar um trabalho é o mesmo, porque não partir de algo que o realiza então? Será que vale mesmo a pena colocar tanto esforço para construir algo que não preenche? Será que somente o resultado financeiro no final do mês justifica?
Não estou a fazer uma apologia do trabalho sem remuneração. Apesar de existirem diferentes formas de remuneração que não somente a financeira (mas isso é papo para outro texto).
Estou a despertar aqui uma reflexão sobre o que motiva cada um a continuar fazendo o que se faz, pois da mesma forma que essa pessoa hoje tem um emprego ou um empreendimento para empregá-la, também é possível ter um trabalho que traga a remuneração que ela precisa mas que também preencha as demais necessidades de um ser humano para se viver em harmonia. Afinal, de que adianta o dinheiro vir, enquanto a felicidade, a paz, a saúde e a realização escorrem pelas mãos?
Me entristece ver uma sociedade inteira adoecendo por conta dessa busca insana por uma ascensão profissional, reflexo de uma dor interna que muitos carregam sem ao menos saber que o que mais procuram é serem ouvidos, chamarem a atenção de alguém e afirmarem a sua própria existência.