Capítulo 3 - A chegada como ponto de partida
A experiência anterior me ajudou a chegar onde estaria dois anos depois, liderando uma iniciativa global de startups dentro de uma multinacional. Tive a oportunidade de construir algo do zero com um time de pessoas que compartilhavam da mesma visão e acreditavam no mesmo caminho para o futuro. Audácia, inovação e pioneirismo estiveram presentes em toda minha carreira profissional. Por onde passei, sempre busquei questionar, procurar novas soluções e fazer diferente, e era exatamente isso o que estava construindo mais uma vez ali.
Achei o cenário quase ideal para uma pessoa como eu, inspirada e movida pelo novo. Trabalhava com o que gostava, fazendo o que acreditava e tendo a oportunidade de juntar a isso algumas paixões da minha vida: culturas e viagens. Parti em busca de entender como o empreendedorismo e a inovação eram vistos e aplicados por diferentes nações. Meu foco estava na inovação de produtos, serviços e negócios, mas parte dessa jornada passava também por conhecer pessoas e seus comportamentos. Sentia ter chegado aonde queria em minha vida profissional.
A experiência no Vale do Silício talvez tenha sido uma das características mais marcantes nesse sentido. Mesmo quem não atua com inovação e empreendedorismo já deve ter ouvido falar desse lugar de alguma forma, ainda que apenas por saber que foi lá onde nasceram empresas ícones como Google e Facebook. Quem de alguma forma está ligado ao movimento de startups 1 entende o valor especial de uma experiência como essa.
Esse era o desejo de qualquer profissional da minha área e era o meu também. Ir para o Vale do Silício, conhecer essas empresas de perto, conversar com empreendedores e investidores que estavam chacoalhando o mundo, entender o que essas pessoas estavam fazendo e me sentir parte daquela transformação. Tudo aquilo me trouxe uma nova forma de enxergar as pessoas e o potencial de transformação delas.
Em alguns momentos, até cheguei a pensar que essas viagens poderiam saciar meu instinto de liberdade, que andava por ali meio camuflado. Foi exatamente o contrário o que aconteceu. Quanto mais explorava e abria minha mente, mais esse sentimento de querer “voar” aflorava em mim. Isso ficou muito claro quando voltei dessa viagem. Adentrei o apartamento no qual morava, na região de Pinheiros, em São Paulo, olhei para os quatro cantos daquele espaço e me sentia enclausurada. Aquilo tinha se tornado muito pequeno para mim.
Naquele momento, decidi entregar o apartamento, desfazer-me de tudo que eu tinha ali dentro e encontrar uma forma de ganhar um pouco mais de espaço e movimento. Foi assim que coloquei o básico que precisava em uma mala e passei a me hospedar em diferentes lugares por meio do Airbnb.
Encontrei respiro mudando a vizinhança, explorando novos cantos da cidade, aventurando-me a conhecer novas pessoas, fazer novas amizades e estreitar laços antigos. Aluguei alguns apartamentos para ficar só, compartilhei outros para ter alguém para conversar, hospedei-me em uma cobertura para ver a cidade de cima e em um centro budista tibetano para me fechar no silêncio.
A minha vida remota se configurava sem ao menos planejar muito. Trabalhava alguns dias no escritório e outros da casa de meus pais ou na casa de praia. Havia encontrado um jeito de criar um pouco mais de flexibilidade em minha vida, achei que isso seria o suficiente. E foi, por pouco mais de um ano e meio.
Mudar de espaço e circular por outros cantos me fez ganhar um novo ritmo, mas, ao mesmo tempo, eu percebia que a solução não viria apenas mudando de lugar. Picos de stress oscilavam com picos de desmotivação e frustração. Era sobre morar em uma cidade gigante e me sentir privada de fazer o que queria. Não poder sair na rua sem olhar para os lados e me preocupar se alguém se aproximava. Não poder respirar e sentir a natureza todas as manhãs.
O ambiente corporativo no qual estava inserida me sufocava. Eu via minha energia sendo sugada na tentativa de desafiar pessoas e mover negócios. Eu amava o que fazia, mas aquilo, daquele jeito, não era mais para mim.
A situação na qual eu mesma me coloquei me corroía dia a dia. Não encontrava mais felicidade na vida que levava. Eu via minha vida passar através de uma janela de vidro do escritório, por dias consecutivos, e nada mudar.
As dores de cabeça se tornaram constantes, a ansiedade tomou conta de mim e o stress vinha atacando meu estômago. Sem saber, eu estava a caminho de uma crise de burnout. O meu corpo sinalizava o que minha alma já vinha clamando há tempos: um grito de liberdade.
Eu lutava, mas não era contra minha vontade de me sentir livre. A difícil batalha ali era aceitar que aquilo que eu havia conquistado até então já não me preenchia mais. Haviam me ensinado que uma vida de sucesso era crescer e ser reconhecida profissionalmente, ter uma carreira no mundo corporativo, alcançar um bom salário e uma vida estável e confortável. Durante muito tempo, eu coloquei toda a minha energia para fazer isso acontecer.
Alguém se esqueceu de me avisar que, antes de perseguir o que outros me diziam, seria sensato primeiro me perguntar:
Qual o significado de sucesso para mim?
Acabei perguntando isso para muita gente ao meu redor, mas a única pessoa que eu não soube ouvir fui eu mesma.
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Ressoa muito em mim. 🥰
Na sexta linha do 2o parágrafo, a palavra Parti está sem o i 😬
Alguns termos em inglês sem o formato itálico, você usou essas formatação em outros capitulos.