Capítulo 15 - O fluir sem controlar
Minha conexão com a natureza desde sempre foi pautada pela grande admiração à riqueza da nossa mãe Terra. O colorido das flores, o cheiro de mato, o comportamento dos animais... Isso tudo sempre me chamou a atenção. Parando para admirá-la mais de perto, pude enxergar o que ia além daquilo que meus olhos podiam capturar em um simples olhar. Não era somente uma beleza estática, mas o belo que se revelava com o movimento causado pelo ciclo natural da vida ao ver as plantas e flores desabrocharem, a maré dos oceanos mudarem ou as espécies e animais migrarem.
Por que será que nós, humanos, muitas vezes resistimos tanto a simplesmente seguir esse ciclo natural? Fluir com a correnteza da vida, sem querer controlar o que não se pode, e apenas entender que as situações que se apresentam a nós vêm justamente para nos colocar no curso dos acontecimentos e nos direcionar para onde devemos ir.
Não soa tão mais simples se deixar levar? Por mais que pareça fácil, eu já me peguei remando várias vezes no sentido contrário a esse fluxo. Na maior parte das situações, era a minha imensa vontade de querer alcançar algo ou chegar a algum lugar que gritava mais alto.
Foi mais ou menos isso o que aconteceu quando comecei a ter um pouco mais de clareza do que queria para minha vida. Tudo estava ficando tão nítido: a vida nômade, as viagens de expansão, o negócio para orientar pessoas em suas jornadas de desenvolvimento, os projetos com negócios e parceiros, a colaboração com o terceiro setor etc.
Só que, em determinado momento, acabei me convencendo de que para chegar lá existia apenas um único caminho, talvez porque era isso o que já conhecia. Fiz de tudo para perseguir tal caminho, muitas vezes me colocando frente a frente com meus valores. Eu me vi, várias vezes, confrontada por minhas próprias escolhas.
Ter consciência de aonde queremos chegar e visualizar esse lugar é poderoso, mas existe uma linha tênue entre direcionar nossa intenção para lá e deixar um caminho reto e um ponto de chegada ofuscarem a nossa visão. Hoje, consigo ver o quanto isso por vezes consumiu minha energia e me fez atravessar caminhos que me machucaram – e muito.
Sabe aquela sensação de estar em uma estrada cheia de curvas, onde não dá para ver exatamente o que vem pela frente? A qualquer momento, podemos ser surpreendidos por algo, mas, por mais que o caminho possa parecer sinuoso, ainda assim temos a certeza de que estamos na direção certa. A nossa vida também é assim: não linear.
Por que nos esforçamos tanto em transformar a vida em uma linha reta se a nossa própria natureza é mais como o curso de um rio?
Deixar as coisas acontecerem nos abre oportunidades para sermos positivamente surpreendidos por coisas que mal podemos imaginar; porque nossa imaginação também é finita.
Cheguei ao ponto de me abstrair do momento presente e sofrer por um futuro que ainda nem existia. Na ânsia de chegar a esse futuro desejado, acabei perdendo a efemeridade do momento atual. Estava tão distraída com a construção do amanhã que o presente passava despercebido. Não existe estar apenas “de corpo presente”: se nossa alma não está, nós simplesmente não estamos.
Saber para qual direção quer ir é sinal de profundo conhecimento de si próprio. Confiar que a vida nos levará até lá pelo melhor caminho é um passo ainda maior de evolução. É se desprender de controlar cada pequeno movimento. É se desapegar de um futuro que não existe fora dos nossos pensamentos.
Quando esse desprendimento acontece, inevitavelmente nos voltamos menos para o amanhã, concentrando nossa atenção no hoje. Afinal, é neste momento presente que, todo dia, a vida acontece; assim como num filme que se constrói de pequenos frames, mas que, de tão rápidos e efêmeros, muitas vezes são minimizados e menosprezados por nós. No entanto, a riqueza do filme está justamente na composição desses pequenos e singelos pedaços.
Enquanto estamos ocupados com a falsa impressão de que podemos controlar o que queremos e como chegar ao futuro que desejamos, a vida está simplesmente passando por nós neste mesmo instante. Está acontecendo lá fora, no agora, e nós deixamos que isso escorra por nossos dedos por conta de um amanhã que pode existir ou talvez não.