Capítulo 13 - O derrubar das conclusões
A nossa sede gigante por respostas muitas vezes nos leva de um dilema diretamente a conclusões em um piscar de olhos.
O que fazemos para cortar etapas nesse caminho?
Supomos isso e aquilo sem ao menos nos darmos a chance de investigar ou entender melhor antes de tirar conclusões e assumir como verdades coisas frequentemente distorcidas.
Até certo ponto dessa jornada, eu acreditava que meu principal dilema aqui era conquistar a minha liberdade e que isso viria ao atravessar fronteiras. Pulei direto para a conclusão de que a minha pulsante vontade de viajar, visitar novos lugares e descobrir novas culturas satisfaria o meu desejo de liberdade.
Quem aí já não pensou em colocar uma mochila nas costas e sair viajando por diferentes países ou rodar o mundo trabalhando em um navio? Mas, estar do outro lado do mundo me abriu os olhos para além das minhas velhas conclusões. Fez-me entender que não era somente essa liberdade que buscava. Precisei ampliar o meu conceito para algo que precisava ser compreendido e conquistado primeiro dentro de mim mesma para, assim, ser buscado lá fora.
Da mesma forma que um dia também abri mão da conclusão de que apenas uma guinada em minha vida profissional me traria felicidade. Isso era, sim, uma parte importante de todo o processo, mas não a principal. Eu precisei criar espaço para reconstruir as demais esferas da minha vida com o mesmo peso e a mesma relevância.
Esse salto direto para as conclusões acaba sendo ainda mais perigoso quando chegamos às mesmas levando em consideração experiências que tivemos. Com aquilo gravado em nossa memória, é como se voltássemos no tempo e estivéssemos revivendo a mesma situação. Isso pode ser um tanto simples, com sentimentos bons causados por memórias positivas, mas pode nos remeter a uma espiral decrescente e com experiências não tão agradáveis assim.
No entanto, você deve estar se perguntando se isso não é parte do processo de aprendermos a não repetir determinados erros e situações em nossas vidas. Eu diria: com certeza! E não posso discordar do fato de que a experiência que tivemos até aqui nos previne de cometer os mesmos erros; mas, ao mesmo tempo, pode nos impedir de nos aventurarmos por novos caminhos.
Evitando passar pelos mesmos momentos de sofrimento ou perda, acabamos desviando da rota e fugindo do enfrentamento dessas situações desafiantes para nós. O medo de errar novamente e só em pensar em reviver a mesma situação tal e qual acaba por nos bloquear. Considerar o aprendizado que tivemos e enraizá-lo em nós não significa simplesmente escapar, mas sim encontrar uma nova forma de enfrentar as mesmas situações. A pergunta que nos devemos fazer aqui é: o que é possível fazer diferente? Afinal, não são as situações que nos definem, a forma como as encaramos é que nos molda.
Você deve lembrar que não tive um resultado muito feliz em meu primeiro empreendimento. Imagine se eu tivesse ficado presa à conclusão de que empreender é uma rota dolorida de perdas e sacrifícios? Com certeza, não estaria onde hoje estou. Vou pedir licença a meus pais para me ater a uma outra experiência que me marcou profundamente e poderia ter me impedido de vivenciar o amar em minha vida.
Ainda criança, eu me deparei com uma situação bastante triste e desconfortável dentro de meu próprio lar. Vi minha família se despedaçar e aos poucos o ambiente que costumava ser meu aconchego transformar-se em um inferno. Ao passo que o relacionamento de meus pais ruía, o conceito de amor entre um casal, para mim, desmoronava. Tudo que haviam me ensinado e explicado até então não condizia com as cenas que vivenciava diariamente.
A crise no relacionamento dos nossos pais, por si só, já é um fato capaz de nos causar feridas profundas, mas um trauma como esse pode ser ainda maior quando ocorrido muito cedo em nossas vidas. Nessa etapa, os pais são as primeiras e principais referências que temos. Descobrir que os heróis que tinha dentro de casa eram antes de tudo seres humanos foi um tanto quanto chocante para mim.
Essa experiência acabou por influenciar, óbvio que inconscientemente, a forma como lidei com todos os relacionamentos amorosos que tive mais tarde em minha vida. Eu simplesmente fugi de vários e estabeleci muros de concreto entre mim e o outro. Criei uma capa protetora à minha volta para não me entregar à outra pessoa. Tudo pelo medo de ser machucada e passar por aquela dor novamente.
Mas, muitos anos mais tarde, ao olhar para meus pais juntos e vê-los tão felizes, tudo se transformou em mim. Da mesma forma que um dia eles destruíram o conceito que eu tinha de amor, vieram mais tarde reconstruir isso em mim. Eles poderiam simplesmente ter escolhido não passar novamente pela mesma situação. No entanto, eles me ensinaram que, quando não podemos mudar a situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos.
Nós precisamos, em algum momento, aprender a desapegar de nossas conclusões e estar abertos para experienciar as mesmas situações de forma diferente em nossas vidas. Não teria feito nem metade do meu percurso se permanecesse apegada às minhas conclusões. O desapego me guiou por um caminho ainda mais intenso de transformação ao ressignificar tantas coisas em meu caminho – amizade, estabilidade, genuinidade, sinceridade, simplicidade etc. Foi assim também que ressignifiquei em mim o conceito de empreender, amar e ser livre.