Capítulo 12 - A confiança no especial em mim
Passar pelo processo de me priorizar e me valorizar ajudou, ao mesmo tempo, com que eu ressignificasse a minha pessoa em relação ao outro. Contribuiu para que a autoconfiança, que havia sido diminuída há tempos, voltasse a crescer dentro de mim. Eu estava cansada de, mesmo olhando para trás e vendo o quanto já havia construído até ali, nunca me achar o bastante, suficiente.
O questionamento, antes, era sempre por que eu ainda não tinha conquistado o que os demais conquistaram ou por que ainda não havia chegado aonde os demais estavam. Uma contínua cobrança a mim mesma, na qual sempre colocava os outros acima e acabava me posicionando no degrau inferior. O pior é que, quanto mais colocamos a barra lá em cima, menos nos sentimos capazes e menos reconhecemos nossos talentos e nossas habilidades.
Ao fazermos isso, estamos pegando o caminho totalmente contrário do encontro com nossa autenticidade. É como se ignorássemos o fato de que somos únicos e cada um aqui tem uma jornada completamente diferente a ser traçada, um papel distinto a ser conquistado neste mundo. Quanto mais nos distanciamos do que é autêntico em nós, mais nos colocamos como iguais aos outros e mais nos aproximamos daquele velho jogo conhecido que mina nossa autoconfiança: o da comparação.
Quem nunca foi vítima da comparação com alguém?
Isso começa logo dentro de casa, na relação com o irmão ou a irmã. Quem passou por essa situação sabe o quanto pesa, pois quando crianças queremos contentar nossos pais, mesmo que não conscientes disso. Buscamos o tempo todo provar a eles que somos exatamente o que imaginavam, ou até mais, e surpreendê-los ao superar suas expectativas.
Mais tarde, ingressamos na escola e passamos a ter nosso trabalho comparado com o do coleguinha da classe. Entramos no mercado de trabalho e enfrentamos mais um sistema de avaliação, com base na comparação com os demais colegas de trabalho. Eita situações ingratas nas quais somos colocados! O mesmo sistema que a todo momento nos trata como iguais, criando réguas de comparação para poder nos avaliar entre os demais, por outro lado exige de nós que nos diferenciemos dos outros. Mas, quando isso acontece, será que é realmente reconhecido?
Longe de mim deixar somente a sociedade carregando essa culpa. Entramos nesse choque entre o indivíduo e o grupo, nós e o todo, eu e os outros e acabamos por recriar isso em nossas vidas ao tomarmos o outro como nosso ponto de referência. Em vez de reconhecer o que carregamos de diferente e especial em nós, vamos ao longo dessa trajetória exterminando nossos talentos e nossas paixões mais genuínas.
Esse cenário formado acaba exigindo que realmente abracemos o que é diferente em nós; mas, quando fazemos isso, precisamos lutar às vezes contra todo um sistema para ir em busca de criar o que nos realiza. Para alguns, isso pode parecer um esforço extremo. Para mim, esse foi o tipo de desafio que veio como uma chave para uma porta de libertação sem medida. Foi por esse caminho que parei de me julgar a errada por ser apenas diferente, pensar diferente, querer as coisas de forma diferente. Sim, sou diferente e precisei assumir isso para mim mesma, antes de mais nada.
Não havia razão alguma para tentar ser igual, se desde pequena eu sabia que havia algo de diferente em mim. Eu escolhi uma festa regada a azul e roxo nos meus 15 anos, enquanto as minhas amigas organizavam a noite cor de rosa da Cinderela. Vi meus amigos e meu irmão se casando e tendo filhos, enquanto eu só pensava em criar novas aventuras, viagens e novos projetos. Lembro-me das tantas vezes que ouvi de minha mãe:
— Kelly, deixa de inventar moda!
— Mas, mãe, não estou inventando nada! — eu respondia, com toda a sinceridade.
Quando entendemos que somos únicos, conseguimos reconhecer que é justamente aí que mora nosso maior valor. Ao nos priorizarmos e nos valorizarmos, temos confiança para assumirmos o que é único em nós, sem o medo de sermos julgados e também sem julgar o outro. Passamos a perceber o quão relevante é que o outro também assuma o especial em si.
Parei de me preocupar com o tal do “padrão de referência” e percebi que estar fora dele era o melhor a fazer. Eliminei questionamentos que invariavelmente afloravam em mim sobre estar no caminho certo, fazer a coisa certa ou tomar as decisões certas. Não havia mais certo ou errado, mas sim o que é mais adequado e mais apropriado para cada um de nós.
Esse caminho me livrou da necessidade de me encaixar em tudo e em todos os lugares. Eu disse adeus àquela sensação desconfortável de não me sentir parte do grupo. Passei a confiar em mim e a fazer as coisas por acreditar nelas, por elas fazerem bem para mim. Eu me libertei da busca pela aprovação ou aceitação do outro. Demorei, mas entendi que não vim ao mundo para contentar os outros, e nem poderia fazer isso estando infeliz com minhas próprias escolhas.