Capítulo 11 - O valor que se dá a si mesmo
Não tem como falar de valores sem darmos valor a nós mesmos primeiro. Confesso que demorei um pouco para aprender isso. Lá na minha lista de valores poderiam ter várias palavras, mas de nada adiantavam se a minha pessoa não estivesse junto delas. Eu precisava estar em primeiro lugar nessa lista.
Você deve estar se perguntando como era possível eu não dar valor a mim mesma. Sim, isso é real e descobri que acontece com muita gente. Mas interessante foi como descobri isso sobre mim mesma. Eu me fazia a seguinte pergunta...
Dou a mim o mesmo valor que dou às outras pessoas?
A resposta era sempre um firme e forte: “Claro que sim!”. Ao mesmo tempo, comecei a analisar quantas vezes eu havia deixado de fazer minhas coisas para acomodar necessidades dos outros, pois eles nunca podiam esperar. Quantas ocasiões eu havia deixado de ir aos lugares que eu queria, pois tinha entulhado minha agenda de compromissos para atender aos desejos dos outros. Quantas vezes não havia me dado o direito de descansar para não deixar os outros “na mão”. Quantas ocasiões eu havia postergado meus sonhos para realizar desejos dos outros, afinal o meu sempre podia esperar mais um pouco.
Daquela vez foi diferente! Um impulso forte vinha de dentro e não dava mais para segurá-lo. Eu precisava me colocar nesse primeiro lugar e ter minhas vontades atendidas. Não era somente sobre me priorizar. Era um degrau ainda maior que eu precisava conquistar: o de me valorizar.
Era um basta bem maior que atravessava meu peito. Um basta para o lado masculino, que imperava em mim. Um basta para a racionalidade, que colocava meus sentimentos em segundo plano. Um basta para o papel que a sociedade esperava que eu, como mulher, deveria desempenhar. Um basta para aquela visão machista do mundo em que eu precisava sempre oferecer provas da minha competência para que me dessem o determinado valor.
Quem gritava era meu lado feminino, que há muito tempo havia sido negligenciado. Não tinha como me colocar em primeiro lugar com meu feminino quieto e reprimido. Ele ganhava voz ao passo que as minhas emoções e os meus sentimentos conquistavam um espaço maior dentro de mim.
Durante muito tempo, criei e sustentei uma carcaça dura, fria e fechada para poder me proteger e sobreviver. Ainda tenho em minha mente imagens das salas de reuniões nas quais estava rodeada de homens; sendo a única mulher, precisava encontrar meu lado masculino para poder defender minhas ideias, opiniões e defender a mim mesma. Eu precisava daquilo para conquistar o que queria. Pelo menos, isso era o que eu acreditava até então. Mas não mais. Era preciso valorizar a mulher que sou. Afinal, o que de genuíno e autêntico posso trazer ao mundo se negar minha própria natureza feminina?
Vim ao mundo com o mágico dom de geração da vida, criadora de filhos – sejam eles humanos, ideias ou projetos. Nada tinha a ganhar sufocando isso em mim; pelo contrário, acabaria ofuscando uma forte e potente habilidade inata dentro de toda mulher. Eu deveria me sentir mais, ao invés de menos capaz, menos forte e menos resistente como mulher. Era um exercício de aceitação de mim mesma. Aceitar não só minha natureza, mas aprender a me respeitar e amar como tal.
Eu senti que havia ali um grande processo de cura a ser feito e só tinha um lugar no qual essa cura ressoava perfeitamente; foi em busca disso que, mais uma vez, fiz minhas malas e parti de volta para a mística Byron Bay na costa da Austrália - um lugar reconhecido pela forte energia que ali impera, seja por conta das pedras encontradas debaixo daquele solo, da expressividade com a qual a Lua brilha naquele céu, ou da história sagrada carregada pelos ancestrais aborígenes que ali viveram. Uma atmosfera que é completada pela beleza natural que predomina naquela região.
Foi naquela atmosfera turbulenta, intrigante, de força e ao mesmo tempo fluida, rodeada pelo verde da natureza e o azul do mar, que busquei me reconectar com o que de mais feminino existia em mim. Embarquei nessa viagem sem planos definidos ou prazos estipulados; apenas uma coisa me guiava: o meu sentir.
Naquele espaço, deixei que meus sentimentos aflorassem. Fui levada pela emoção em muitos sentidos. Deixei que meu coração me guiasse por esse capítulo. Eu me permiti ser frágil, humana e me abri para me conectar com meus prazeres, gozar e descansar do mesmo modo no qual me dedicava ao trabalhar. Passei a fazer o que amava e, por consequência, amar o que fazia, o contato com a natureza de onde eu vim, o meu corpo como parte dela, a minha mente e minha alma.
Esse caminho para encontrar a mulher em mim me levou primeiro a resgatar a minha menina interior. Vi aquela garotinha da minha infância renascer e me dar as mãos. Banhada de espontaneidade e leveza, voltei a me conectar com meus sonhos e acreditar que a vida, sim, podia ser mais colorida.
Foram nove meses em que eu me senti como se meu corpo se transformasse e desabrochasse. Meu tempo de gestação de uma nova mulher. Uma mulher que se redescobria e nascia novamente. Eu olhava para o espelho e amava o que via, sem colocar defeito algum, pela primeira vez em toda a minha vida. Era o amor- próprio que transbordava de dentro para fora.
Ao mesmo tempo, fui tomada por um lindo sentimento de gratidão. Era uma satisfação imensa por ser quem eu era, por estar onde estava e por me permitir chegar aonde havia chegado. Era gratidão pelo que conquistei, por quem me tornei e pelo que queria construir a partir dali.
Eu me sentia completa por ter de volta o meu amor-próprio. Essa completude de amor acabou por transbordar meu ser e encontrar o amor do outro. Em Byron, mais uma vez me apaixonei, mas dessa vez foi totalmente diferente. Como uma nova mulher, encontrei também uma nova forma de amar. Não precisava mais me bloquear, tentar ser perfeita e impressionar, me sentir insegura e fantasiar. Um amor maduro e sincero, capaz de criar um espaço no qual me senti como nunca antes havia me sentido nos braços de uma figura masculina: confortável e segura para me deixar levar.
Esse amor veio para reafirmar ainda mais o que havia nascido do meu amor-próprio. Fez brilhar o que de mais genuíno havia em mim. Entre refeições compartilhadas, pôr do sol na praia, viagens, ondas dropadas e muitas conversas, uma linda amizade e parceria mútua floresciam.
Um amor que percebeu em mim muito além do que eu mesma havia enxergado no espelho até então. Esse reflexo me fez enxergar no outro muito além do que a aparência física costumava me mostrar. Rompi com estereótipos, quebrei tabus de que há anos tentava me libertar e me permiti experimentar esse novo jeito de amar.