Burn...o quê?
Alerta de transição: outros sinais além do burnout que precisamos falar sobre
Um dos grandes desafios que encontro ao orientar pessoas em suas transições é a compreensão da necessidade de uma mudança antes de que os sintomas estejam explícitos a ponto de impactar sua saúde. O burnout é um dos mais conhecidos e talvez o indicador mais tardio nesse sentido. Mas existem outros sinais sutis que precisam estar no radar de qualquer um de nós.
Antes de apresentá-los, vale ressaltar que – se você não está familiarizado com o termo – o burnout é um estado extremo de exaustão física, emocional e mental causado por um excesso de situações exigentes, como sobrecarga de trabalho e impotência diante das demandas e decisões, por exemplo. O stress atinge o limite e pode desencadear sintomas como fadiga, insônia e irritabilidade. Tão alta é a incidência disso na população atualmente, que a a Organização Mundial da Saúde classificou o burnout como um fenômeno ocupacional.
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Se você nunca ouviu falar sobre a "família” do burnout, vou tentar de forma bem simples (longe de transformar isso em um boletim médico…rs) te trazer aqui essa sopa de letrinhas que pode sinalizar a você o momento de fazer uma mudança e qual seria ela.
Burnon é um estágio preliminar ao burnout, no qual os primeiros sinais começam a aparecer, como: estresse e irritação contínuos, alteração de humor e cansaço frequente. Muitas pessoas podem hoje estar vivendo isso e poderiam prevenir a iminência de um burnout.
Mas existem outros dois estágios que são pouco falados, no entanto tão importantes de serem notados quanto os acima:
O Boreout é o estado de desestímulo e não engajamento com as atividades no geral, quando as tarefas se tornam pouco estimulantes, cresce um desinteresse profundo e, eventualmente, um esgotamento.
Já o Brownout representa uma desmotivação crescente com o trabalho e a carreira e o desempenho e bem estar do indivíduo vão sendo afetados silenciosamente, já que ele parece estar operando "normalmente”.
Pessoas nesses estágios experienciam algo como:
Sinto que minha capacidade não vem sendo aproveitada em minha ocupação atual.”
“Não me sinto desafiado em meu trabalho atual.”
"As atividades que faço são extremamente monótonas e repetitivas.”
"Não consigo ver o impacto positivo do meu trabalho.”
"Não tenho vontade alguma de fazer minhas atividades diárias.”
“Me sinto improdutivo."
O que tudo isso pode estar tentando te dizer?
Toda experiência de esgotamento pode estar trazendo à tona outras coisas diretamente ligadas ao seu ambiente de trabalho ou escopo atual que podemos muitas vezes não enxergar:
A desconexão entre o que você esperava quando foi contratado e o que realmente está fazendo no seu trabalho.
A não concordância com uma cultura empresarial que glorifica e recompensa o excesso de trabalho.
O desalinhamento com os seus valores de forma a não encontrar formas de fazer o seu trabalho sem violar o que você acredita e o seu código moral.
A incompatibilidade da sua função com o profissional que você é causando um sentimento de subutilização ou esforço desperdiçado.
Formas de aliviar o esgotamento no dia a dia
Enquanto o ambiente pode não cooperar, em muitos outros casos os nossos próprios hábitos, que apesar de parecerem benéficos, podem estar drenando a energia e o nosso desempenho. Será que você consegue notar alguns deles abaixo?
Buscar o perfeccionismo - uma ilusão que pode estar custando sua saúde, quando já é a hora de se aceitar como humano e imperfeito.
Relutar e procrastinar - uma tática para evitar as atividades chatas, mas que acaba por gerar maior estresse conforme os prazos se aproximam e as tarefas se acumulam.
Medo de falhar - pode estar te paralisando de assumir alguns riscos e dar maiores passos.
Viver preso ao passado - sofrer por achar que tudo será sempre do mesmo jeito inclusive o que não deu certo.
Mas nem tudo são espinhos…
Se os exemplos acima trazem uma perspectiva negativa da situação, existe um integrante dessa "família” que se concentra na parte positiva: o Burnin. Uma abordagem proativa para reacender a motivação, paixão e o entusiasmo pelo trabalho e pela vida, antes que o burnout se instale.
E existem alguns principais caminhos para isso:
Autocuidado: estabelecendo seus limites e buscando formas de priorizar outras áreas da sua vida para buscar um equilíbrio e bem-estar.
Autoavaliação: reavaliando as metas que você colocou para si mesmo e alinhando suas expectativas a algo mais factível não só ao seu momento de carreira mas também de vida.
Autoconsciência: refletindo sobre seus reais interesses para o que você faz lhe trazer satisfação e significado.
Conectando os pontos e os tipos de transição
Estar atento aos sinais e compreender esses diferentes estágios e seus impactos é crucial para mudar o que precisa ser mudado. E a habilidade da autoconsciência pode te ajudar a sintonizar o melhor momento disso ser feito e o tipo de transição a ser buscado.
Se os sintomas mais severos já estão visíveis, o momento de uma mudança, ou melhor, uma parada é mais do que imediato. A transição pode ser feita após primeiro de tudo ter cuidado da sua saúde.
Caso você tenha começado a notar alguns indicadores de esgotamento mais especificamente conectados às atividades desempenhadas nesse momento da sua carreira, você está em tempo "sadio” de fazer uma mudança. O tipo de transição que estamos falando aqui pode ser um novo escopo dentro da sua própria área, o envolvimento em novos e maiores projetos, ou até mesmo uma mudança de área ou empresa de diferente segmento para te trazer novos desafios.
Agora, se você percebe que os sinais têm uma raiz mais profunda, estando ligados ao significado do trabalho para você e seu impacto no outro, ao que você acredita e o que é valor para você, e ao quanto você está conseguindo se expressar e trazer todo seu potencial por meio do que você faz, o escopo da transição aqui precisa partir de uma investigação maior do que meramente a esfera profissional. É preciso um retorno à sua individualidade primeiro.
Em qualquer fase dessas, é fundamental estarmos atentos aos sinais ao nosso redor – não somente do que pensamos mas também como nos sentimos nas situações descritas acima – para irmos ao encontro do real motivador e a transição que nos trará realização genuína.
💥 Pílulas sobre o tema:
📕Burnout: The Secret to Unlocking the Stress Cycle - um dos livros do ranking do New York Times sobre como lidar com o estresse e prevenir o burnout, oferecendo estratégias práticas e baseadas em ciência para os diferentes sexos, está no ranking do ranking.
🎧Como ser produtivo sem burnout with Adam Grant - episódio do podcast de Adam Grant, um renomado psicólogo organizacional, que entrevista Cal Newport, autor do livro Slow Productivity.